Etnomatemática como itinerário formativo no Ensino Médio da Bahia

Autores

Palavras-chave:

Ensino de Matemática, Educação Básica, Currículo, Diversidade Cultural

Resumo

A proposta de inclusão da Etnomatemática como itinerário formativo no Ensino Médio do estado da Bahia, emerge como uma resposta aos desafios de contextualização, inclusão e valorização da diversidade cultural no ensino da Matemática. A abordagem articula teoria, prática e experiências de pesquisa no campo da Etnomatemática, inserida em um panorama histórico, político e pedagógico. A Etnomatemática, de acordo com Ubiratan D’Ambrosio, propõe o estudo das práticas matemáticas desenvolvidas por diferentes culturas ao longo da história da humanidade. Esta vertente ganha relevância ao considerar os saberes locais como formas legítimas de conhecimento, desafiando a hegemonia da Matemática tradicional de base eurocêntrica. A implementação da Etnomatemática no currículo do Ensino Médio baiano, por meio da portaria nº 77/2025 da Secretaria do Estado da Bahia, que dispõe sobre a organização curricular das Unidades Escolares da Rede Estadual de Ensino que ofertam o Ensino Médio, oferece muitos benefícios. Em primeiro lugar, a Etnomatemática promove a valorização dos saberes culturais locais, ao reconhecer e legitimar práticas matemáticas desenvolvidas por diferentes grupos sociais, como comunidades quilombolas, indígenas, de pescadores, artesãos, entre outros. Essas práticas, muitas vezes invisibilizadas pelo currículo tradicional, revelam modos próprios de contar, medir, estimar e resolver problemas, enraizados em contextos históricos, culturais e ambientais específicos. Ao integrar esses saberes ao processo de ensino e aprendizagem, a escola estabelece uma ponte entre o conhecimento acadêmico/global e os conhecimentos culturais/locais, favorecendo uma aprendizagem mais contextualizada e com significado. Em segundo lugar, a inserção da Etnomatemática no currículo contribui de maneira decisiva para a decolonização do ensino da Matemática. Essa perspectiva desafia a predominância de uma epistemologia eurocêntrica que, por séculos, definiu o que seria considerado conhecimento legítimo em Matemática. Ao reconhecer epistemologias africanas, indígenas e populares, a Etnomatemática amplia o campo das possibilidades educativas, promovendo a inclusão de narrativas históricas, lógicas e práticas que foram historicamente marginalizadas. Trata-se, portanto, de uma ação político-pedagógica que visa ressignificar o ensino, tornando-o mais equitativo e representativo das diversidades culturais presentes na sociedade brasileira. Além disso, a Etnomatemática possibilita uma aproximação entre o conteúdo escolar e a realidade vivida pelos estudantes. Ao mobilizar exemplos oriundos de suas práticas cotidianas — como o uso de proporções na pesca artesanal, o reconhecimento de padrões geométricos no artesanato, ou o raciocínio lógico em jogos tradicionais — a Matemática adquire novos sentidos, tornando-se mais acessível, compreensível e motivadora. Essa abordagem favorece o engajamento dos estudantes e rompe com a percepção da Matemática como um saber abstrato e distante da realidade. Outro fator relevante é o potencial da Etnomatemática para fomentar a interdisciplinaridade. Ao se articular com áreas como História, Geografia, Sociologia, Filosofia e Artes, por exemplo, ela contribui para o desenvolvimento do pensamento crítico, permitindo que os estudantes reflitam sobre a origem, a função e as implicações sociais do conhecimento matemático. Com isso, promove-se uma formação mais integral, na qual os estudantes são estimulados a compreender o mundo de forma crítica. Ademais, o reconhecimento dos saberes das comunidades e das experiências culturais dos estudantes, colabora para o fortalecimento da identidade étnico-racial e da autoestima. Quando os estudantes percebem que seus modos de conhecer são valorizados pela escola, sentem-se pertencentes ao processo educativo, o que pode contribuir para a redução da evasão escolar e para a construção de um ambiente mais inclusivo, acolhedor e democrático. Nessa perspectiva, a Etnomatemática como itinerário formativo se configura como uma estratégia transformadora para o ensino da Matemática. Ao respeitar as múltiplas formas de produção de conhecimento e conectar os conteúdos escolares às vivências dos estudantes, contribui para a construção de uma educação pública democrática, equitativa, crítica e culturalmente relevante.

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Publicado

07-09-2025

Edição

Seção

Conferência

Como Citar

MADRUGA, Zulma Elizabete de Freitas. Etnomatemática como itinerário formativo no Ensino Médio da Bahia. Encontro Baiano de Educação Matemática, [S. l.], v. 21, n. 1, p. 1–2, 2025. Disponível em: https://www.sbembrasil.org.br/eventos/index.php/ebem/article/view/934.. Acesso em: 13 set. 2025.